Programas de Verão no Reino Unido e Irlanda para Crianças e Jovens

Lançámos recentemente uma nova rubrica que pretende inspirar a comunidade Edu4WORD a partilhar experiências sobre interacções e contactos que tiveram com outras culturas – queremos entender como é que estes gestos, palavras ou acções marcaram cada um de nós e de que maneira é que essa experiência alterou e/ou ampliou a sua visão do Mundo.

Hoje transmitimos o testemunho do Afonso Leitão, Participante em Programas no Reino Unido dos 6 aos 16 anos – take it away!

”A minha experiência enquanto Participante foi muito marcante – a vários níveis; se, por um lado a experiência de utilizar um telemóvel em 2000 ainda não era absolutamente democrática (nem de perto, nem de longe!), por outro lado, os Programas eram uma oportunidade única para privarmos com pares de todo o Mundo, uma vez que a utilização que um estudante fazia da internet ainda era muito precária, juntando-se ao facto de que tudo o que sabíamos do outro lado do mundo era proveniente de notícias amiúde.

Certo dia, durante a minha primeira experiência quinzenal, fui à casa-de-banho à noite, ainda relativamente cedo – estimo que 1 hora após o curfew/lights out – e ao aproximar-me ouvi algum barulho e vozes, numa língua que me era absolutamente imperceptível. Avancei porque, como sempre ouvi dizer, “um cristão não teme”; quando finalmente entrei, percebi que o grupo de rapazes chineses que também estava na nossa boarding house estava todo lá: cerca de 20, felizes e em conversa (em chinês, acho!). A outra coisa que me despertou a atenção foi o facto de a casa-de-banho estar cheia de roupa, pendurada em tudo quanto era cortina de chuveiro – ao ponto de se ver mais roupa que cortina. Detive-me por uns momentos e, apercebendo-se da minha hesitação, um dos chineses mais fluentes dirigiu-se a mim e disse que poderia usar a casa-de-banho, sem qualquer problema. Perguntei-lhe o que estavam a fazer e este disse-me que eles estavam a lavar a roupa – o que estranhei, porque já naquela altura existia a rotina da lavandaria semanal, altura em que o Staff nos pedia para colocar roupa suja nos sacos de rede, e que esta seria lavada e entregue, seca, passado dois dias – e comentei isso mesmo. A resposta chocou-me e deixou-me absolutamente curioso: “nós não trouxemos muita roupa porque trazer bagagem de porão é mais caro e também porque temos este hábito de nossas casas.”

Ouvi com imenso interesse o que ele me contou: desde relativamente novas, a maioria das crianças chinesas têm uma disciplina na Escola chamada Home Economics, onde aprendem a cozinhar, lavar e passar a roupa, limpar a casa, etc, tendo inclusivamente o follow-up de participarem activamente em algumas das tarefas de manutenção do parque escolar. Nesta casa-de-banho em Kent, Inglaterra, estavam cerca de 20 rapazes chineses, uns nos lavatórios – a esfregar nódoas – e outros sentados no topo da banheira, a empurrar roupa contra a parte oblíqua desta (a fazer lembrar as senhoras no tanque). com vários pacotinhos de detergente espalhados pela divisão.

Conclusão do acontecimento: perdi a vontade, voltei para o quarto e chamei os meus colegas para estarmos em amena cavaqueira com os chineses na casa-de-banho.

Aprendizagem do acontecimento: não achei estranho; achei diferente. E essa diferença motivou curiosidade para ouvir o meu colega explicar-me não só o que estavam a fazer mas também por que o faziam. Fazendo esta reflexão, hoje com 31 anos, entendo que se esta experiência tivesse surgido muito mais tarde, provavelmente tê-la-ia encarado com algum cepticismo, estranheza, desconfiança – se calhar motivando até um julgamento depreciativo da prática ou da cultura como um todo. Vivi várias outras experiências do género, quer com a cultura Japonesa, Egípcia, Qatari, Saudita ou até Escandinava, que ficam para outra oportunidade – todas estas me ajudaram não só a apreciar ainda mais a minha cultura mas também a valorizar imenso todas as outras, procurar conhecer e também ter um espírito muito aberto para ouvir e interiorizar o que posso aprender com estas. Permitam-me a ousadia de sugerir que todos vós podem – e devem – passar por uma experiência semelhante!”

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